Manifestações não criam processos políticos - Áureo Alessandri.

29/08/2022

Tenho tido algumas divergências com algumas pessoas, gente de boas intenções, sobre a eficácia das manifestações de rua que ocorrem no Brasil regularmente.

Pacientemente, me voluntariei a entender qual era a origem da divergência entre mim e esse pessoal super bem-intencionado - aquele mesmo que acaba, involuntariamente, enchendo o inferno.

Antes que digam que sou contra as manifestações e que como alternativa sugiro ficar em casa coçando o saco, já faço o desarme antecipado: Sou a favor de manifestações de rua e defendo que todos tenham direito a fazê-las quando e onde bem quiserem.

A questão é que, ao contrário da maioria, gosto de entender o que vou fazer antes de sair fazendo a esmo.

Pois bem. Qual a questão sobre as manifestações então? Por que as pessoas acamparam por meses a fio em frente ao Comando Militar do Sudeste em São Paulo e os militares não se mexeram?


Por que as recentes manifestações contra o lockdown foram ignoradas solenemente pelos poderosos?

E as que são a favor da democracia? Por que acabam taxadas de golpistas?

Tentarei explicar de forma clara: Porque o poder não vem das ruas e não emana do povo - ao contrário do que afirma retoricamente o primeiro artigo de nossa constituição eivada de socialismo terceiro mundista.

Se você acredita que o poder emana do povo é porque você foi enganado e ainda não se deu conta.

As manifestações não são capazes de criar processos e fatos políticos. As manifestações são capazes apenas de apoiar ou não os processos políticos que já estejam criados no âmbito do poder.

E aqui vão as provas: Não foram as manifestações de rua que criaram o movimento Diretas Já em 1983. O movimento Diretas Já foi engendrado por políticos de esquerda, por ideólogos comunistas e por ex-terroristas anistiados que, através de uma proposta de emenda constitucional, queriam a volta imediata das eleições diretas para cargos executivos.


Esses ícones da esquerda montaram um plano bem ajeitado e cooptaram artistas malandros e outros babacas famosos de vários setores, inclusive do esporte - como foi o caso de um famoso jogador de futebol bêbado.

As manifestações de rua, gigantescas, apenas apoiaram um processo político que começou em cima, nos corredores do poder, com a paulatina e mal feita "redemocratização" do país.

Não foram as manifestações de rua que fizeram Dante de Oliveira propor a emenda constitucional.

As manifestações apenas serviram para políticos malandros afirmarem perante todos que "as eleições diretas para presidente são a vontade do povo".

O povo foi USADO para legitimar nas ruas um projeto político cujo teor implícito lhe era desconhecido.

Avancemos no tempo com um exemplo mais recente: As manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff.

Estive na Avenida Paulista. Mesmo com meu 1,82m tive que ficar na ponta dos pés pra conseguir respirar em alguns momentos, tamanha era a multidão que tomava a avenida e todas as ruas adjacentes. Chegou a dar medo.

Mas foi a presença de toda essa gente nas ruas que fez Dilma cair? Não.

A verdade é que o PT vinha se indispondo com sua base fisiológica de apoio há algum tempo. Gente do PMDB estava muito insatisfeita com a divisão desigual do produto dos escandalosos roubos ao erário.

O PT precisava devolver o investimento feito pelo Foro de São Paulo para eleger Lula e era exigido a abastecer com cada vez mais dinheiro as campanhas de seus parceiros ideológicos em toda a América Latina além de sustentar a ilha parasita de Fidel Castro - o pai do plano todo.


Isso implicou numa redução substancial na parte dos parceiros de quadrilha no Brasil. O então PMDB viu seus ganhos reduzidos e viu o PT secar a fonte do seu setor evangélico, cujas campanhas eram bancadas pelos esquemas geridos por Eduardo Cunha.

Preteridos na divisão do butim, bastou que o PMDB se juntasse ao PSDB - também insatisfeito por ter sido traído no teatro das tesouras que tinha como pilar a alternância de poder entre eles e o PT - para criar um fato político que fosse capaz de ejetar Dilma do poder central.

Era preciso criar um motivo. Notem que, embora participassem e soubessem de tudo, o PMDB e o PSDB nunca acusaram Dilma da compra superfaturada de usinas sucateadas, nem de desfalques bilionários na Petrobrás e nem de financiar obras faraônicas no exterior a fundo perdido.

"Pedaladas fiscais". Algo que o povo mal desconfia do que se trata e que, embora ilegal, era o que de menos pernicioso Dilma fazia ao país.

O movimento para a derrubada de Dilma foi deflagrado pelo PMDB nos corredores do poder numa verdadeira briga de quadrilha e foi juridicamente embasado por juristas pagos pelo PSDB.

Os milhões de pessoas que foram às ruas, eu incluso, apenas apoiaram esse movimento político de derrubada de Dilma, afinal "pedalada fiscal" - seja lá o que fosse - parecia ruim.

Nós apenas legitimamos o processo político nascido em cima. Apoiamos a causa criada por políticos, que em seguida puderam afirmar perante todos: "é o povo que quer Dilma fora da presidência".

E o povo não estava errado. Nunca esteve.

Errado é acreditar que são as manifestações que criam os processos políticos.


E aqui chegamos aos dias de hoje, no governo Bolsonaro.

Razões para irmos às ruas e até às portas dos quartéis não faltam. Sobram!

Mas qual é o processo político em curso atualmente? ABSOLUTAMENTE NENHUM.

Não há uma causa acontecendo. Há motivos, todos fragmentados, mas nenhum processo político em curso.

Uns vão aos quartéis pedir intervenção militar, outros para pedir o fechamento do STF, outros para pedir o voto impresso e outros para pedir a execução de Lula em praça pública.

Ali do lado, alguns vão às ruas pedir o reconhecimento da cloroquina como cura sagrada, outros protestam contra o preço da picanha e outros vão protestar contra "nano-robôs 5G dentro das vacinas chinesas".

Tudo difuso. Tudo fragmentado no meio de várias bobagens. É por isso que as manifestações tem se mostrado inócuas: Porque não correspondem a nenhum processo político vigente.

Pior ainda: Bolsonaro tem desperdiçado a mobilização das multidões usando-a como uma mera demonstração de capital político, o que é de um simplismo assustador.

E, quando chego a este ponto, escuto o rompante de uma parte daqueles que tratam as manifestações como se fossem questão de fé:

"As forças legalistas só vão agir se formos às ruas aos milhões".

BALELA! CONVERSA FIADA!

Se não for ninguém dizem que é porque não foi ninguém. Se milhares comparecem, dizem que não é o suficiente e se milhões vão às ruas, dizem que a coisa tem que ser resolvida na base da estratégia, o tal xadrez 3D - uma bazófia que o povo alegadamente não tem capacidade intelectual de compreender.

Basta desse tipo de falácia!

As forças legalistas não vão agir porque não conseguem: toda a estrutura institucional do país está dominada pelo banditismo esquerdista implantado pelo PT através das décadas.

O povo já mostrou inúmeras vezes que está pronto a apoiar o presidente em tudo, mas seria preciso que ele, buscando alguma saída que ainda lhe restasse, acendesse o estopim de algum processo político que pudesse ser apoiado massivamente pelo povo para tirar as instituições das mãos do sistema corrupto estabelecido pelas esquerdas.

O problema é que agora já é tarde demais pra isso.

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