CD Older Than Time / Canyon - Por Luiz Domingues
O CD "Older Than Time", é o mais recente lançamento da excelente banda, Canyon, oriunda de São Luís, a capital do estado do Maranhão.
Bem, como é público e notório, essa bela capital nordestina tem uma forte tradição em torno do Reggae e para muitos críticos musicais, é considerada um pedaço da Jamaica no Brasil, tamanha a força de tal cena ali. Entretanto, é um erro crasso estigmatizar uma cidade (e um estado), por um único estilo musical, pois é evidente que isso não é uma verdade absoluta, visto que outros segmentos são bem apreciados, ainda mais ao tratar-se de uma capital com vida cultural pulsante e sintonizada no pensamento cosmopolita, naturalmente.
Pois o Canyon é um bom exemplo de como a cidade tem artistas sintonizados em outras escolas, pois eis aqui uma banda fortemente influenciada pelo Rock dos anos setenta, e sobretudo focada nas vertentes do Hard-Rock e Progressive Rock. Desde 2009 na estrada, essa banda já tem muitos lançamentos em sua ótima discografia e agora acrescenta o excelente álbum, "Older Than Time" em seu currículo.
Neste novo trabalho, o Canyon mantém a sua determinação em trabalhar com afinco entre essas duas vertentes citadas acima, com muita qualidade técnica, criatividade e inspiração. E também segue a cantar em inglês, uma escolha certamente a visar uma adequação ao mercado internacional, portanto trata-se de uma aspiração válida.
Gostei muito do capricho da banda no tocante aos arranjos. Nada escapa, há um trabalho minucioso para dar um bom acabamento, com pontes e convenções que enriquecem o trabalho. Os timbres dos instrumentos também agradaram-me bastante, a buscar o máximo da identidade vintage, algo vital para um tipo de banda que busca a sua inspiração em influências tão nobres do passado.
E para completar o assunto sobre o áudio, esse álbum detém um padrão de gravação muito bom, com uma mixagem correta, onde ouve-se tudo no lugar, devidamente.
É também sensacional, saber que o baterista da banda, Ítalo Silva, foi o técnico de som no processo de captura, mixagem e masterização, deste trabalho, ao demonstrar talento extra e mais do que isso, saber como ninguém que som buscar nessa complexa operação técnica, em suas três etapas.
No tocante à capa, gostei bastante da ilustração frontal. Plena em simbolismo, evoca muitos signos do esoterismo, shamanismo, sabedoria ancestral e afins. Trata-se da figura de um ancião (talvez indígena pelas suas feições), devidamente desconstruído no sentido abstrato, a lembrar vagamente uma menção ao estilo cubista, com uma caverna às suas costas, a sugerir muitas camadas e denotar dessa forma, a questão da passagem do tempo.
De fato, como o título da obra sugere, é mais velho que o tempo o local onde alojam-se os segredos herméticos. Em suma, uma bela ilustração para sacramentar uma temática tão grandiosa e misteriosa. Além do mais, gostei muito da sua resolução em si, rica em sua arte, com muitos detalhes nas bordas, ou seja, a se tratar de um trabalho muito caprichado.
E tudo melhora quando toma-se conhecimento de que o responsável pela criação e lay-out desse ótimo trabalho gráfico é um outro um componente da própria banda, no caso, Ramon Silva. Portanto, o controle total da embalagem, tanto no áudio, quanto na parte gráfica, faz do Canyon uma banda com a uma qualidade a mais, e que revela-se como algo extraordinário em termos de autossuficiência artística e operacional.
Por enquanto, o álbum existe apenas virtualmente, entretanto, a banda planeja o seu lançamento em plataforma física, em formato de CD tradicional, para breve. Em relação às canções em si, eu tenho algo mais a acrescentar.
Ouça o álbum na plataforma, "Bandcamp", enquanto segue a ler esta resenha.
"Fight Them"
Eis aqui umm belo Hard-Rock, com ênfase no riff bem construído, a conter peso e com elementos Prog-Rock, inclusos. Revela-se muito boa a intervenção de um solo de sintetizador, além de uma parte desdobrada da condução rítmica. Apreciei também o peso do baixo a sugerir o uso de bicordes como um recurso interessante.
"Hard Life"
O início a conter arpejos rápidos, lembrou-me bastante o trabalho do Rush em seus primeiros dias. A ótima melodia é amparada por uma base harmônica bem bonita. O refrão manteve o padrão, com uma fluência muito boa.
Gostei também da parte desdobrada e dos efeitos obtidos via sintetizador. Uma mudança brusca vem a seguir e a música caminha para um tema mais pesado, onde a linha de bateria impressiona pela condução técnica, muito boa. Eis que mais um riff muito criativo surge, e desta vez com um ar diferente, quiçá inspirado em trilha sonora para o cinema, tamanha a sua grandiloquência. E o detalhe ao final, é singelo, quando ouve-se um harmônico a sugerir o sinal sonoro que antecede recados em saguão de aeroporto.
"Sorceress"
A impressão que eu tive ao ouvir esse vigoroso Hard-Rock, foi imediata em lembrar-me do som do grupo de Rock britânico, "UFO", nos anos setenta, onde a boa melodia sempre andava em sintonia com a condução vibrante e trata-se exatamente dessa prerrogativa que o Canyon fez uso nesta música.
"Sleeping Lady"
Essa é uma bela balada e a conter surpresas em seu decorrer. Começa com um emotivo solo de guitarra com a banda a estabelecer uma condução excelente e onde sobressai o bom uso dos timbres para cada instrumento. E a seguir, não há nada melhor que uma sonoridade mais amena, onde a massa sonora mais atenuada dá margem para que se preste uma melhor atenção em tal tipo de detalhe.
A beleza dessa harmonia, muito bem amparada pela divisão rítmica, ativou a minha memória no sentido para lembrar-me do trabalho do "Renaissance", outra memorável banda Pro-Rock britânica dos anos setenta. Bem ao estilo Progger, a suíte evolui para apresentar um ótimo solo ao sintetizador, com o apoio de um ritmo quebrado e assim vai até o final, mediante mais sutilezas rítmicas e o bom uso dos teclados.
"Iron Giant"
Apesar do Riff com teor Bluesy, temos aqui um tema com forte orientação Prog-Rock, de novo e certamente a lembrar em alguns aspectos o som do grupo germânico, "Guru-Guru", para que dessa maneira, se possa igualmente buscar a identidade da escola Krautrock setentista. Em suma, só boas influências para redundar em uma boa resolução.
"Lunar Eclipse"
Mais uma canção a explorar muito bem o uso de teclados. Há um solo super climático, realizado com extrema sensibilidade, gostei muito.
"Older Than Time"
Há novamente, como na faixa anterior, uma certa percepção em prol do Blues-Rock. Uma parte amena sobrevém e a canção encerra-se mediante o uso de um Riff que finaliza-se, abruptamente.
"Questions No Answers"
Eis um Soft-Folk com um trabalho muito bonito dos vocais, inclusive com o uso do recurso do contraponto. Mostra-se muito bom o solo de guitarra e o mesmo se observa em relação à parte mais pesada e igualmente, o uso de uma locução com a voz bem processada, a conferir uma eloquência.
Estou feliz por verificar que o Canyon está a prosseguir com muita força em sua trajetória. Mais do que persistir, enxergo um frescor em seu trabalho, fruto naturalmente da experiência adquirida em conjunto com a qualidade individual de seus componentes e com um dado a mais, a criatividade que é uma questão de talento nato.
Além de todos esses elementos, há a questão da cultura Rocker avantajada que esses rapazes possuem e assim, parece muito óbvio que fazer boa música é algo natural para quem conhece profundamente, as suas próprias influências. Sendo assim, a minha recomendação é evidente, o Canyon merece a nossa atenção, apreço e apoio, sempre.
Gravado, mixado e masterizado no Aeon Studio de São Luís-MA
Técnico de som (captura, mixagem e masterização): Ítalo Silva
Produção: Ítalo Silva e Canyon
Capa (criação e Lay-out): Ramon Silva
Formação do Canyon:
Ítalo Silva: Bateria
Jobson Machado (Guitarra, Teclados e Voz)
Leo Vieira (Baixo e Flauta)
Ramon Silva (Guitarra e Voz)
Para conhecer melhor o trabalho da banda, acesse:
Página do Canyon no Facebook:
https://www.facebook.com/pg/CanyonHardProg/about/?ref=page_internal
E através das plataformas digitais:
Spotify, Deezer, Onerpm, Apple, Google Play e Bandcamp.