CD 10 Anos!/ Medusa Trio - Por Luiz Domingues


Milton tem como base primordial de sua música, o Hard-Rock praticado na década de oitenta, predominantemente, mas é bem versado no Blues e mediante muito estudo, desenvolveu-se também no mundo do Jazz-Fusion, que tem as suas vertentes em ramificações variadas, mas a salientar a amálgama do virtuosismo instrumental, como um modus operandi. Contudo, eclético por natureza, ele também aprecia a música brasileira de uma forma geral, o Hard-Rock e o Progressive Rock dos anos setenta e claro, muita música instrumental, portanto, é por essa riqueza e bom gosto todo que o seu trabalho transita.



"Sábado de Sol" é a primeira faixa do álbum e apresenta-se como um Blues clássico em sua estrutura harmônica e rítmica, a soar muito bem nas mãos de músicos virtuoses por natureza e preparo técnico, mas que tiveram o bom senso em estabelecer um arranjo comedido, sem extrapolar as tradições do gênero. Portanto, a tocar com extrema desenvoltura e bom gosto, mas ao mesmo tempo na observação das fronteiras tradicionais do Blues, o Medusa Trio faz aqui um Blues muito gostoso de se ouvir e por que não, até dançar, sem amarras ou constrangimentos, a estabelecer uma alegria natural, muito gostosa em saborear-se. Gostei dos solos mais ardidos e da base limpa de guitarra.

"Ondas Rolando no Mar", vem a seguir. Aqui a aposta é no Pop oitentista com certa queda pelo Hard-Rock daquela década. Gostei muito da base feita sob belos arpejos, e também da linha de baixo na parte A, com efeito "looping" e apoio firme da bateria. Lembra bandas oitentistas que buscavam o Pop, em essência, e tinham influência Fusion, no estilo do "Toto" e demais contemporâneas.

"Guitarras Brasileiras", pelo seu título, já dá a ideia de que Milton faz uma linda homenagem a guitarristas brasileiros que tinham a forte influência da MPB sob múltiplas vertentes e também eram/são Rockers por excelência, casos gritantes de Pepeu Gomes, Armandinho, Paulo Rafael e Robertinho de Recife, entre outros. Ou seja, a se tratar de grandes feras e Milton não se fez de rogado, pois a sua atuação é espetacular nessa faixa, com balanço, solos e bases incríveis, incluso com a introdução de violões para dialogar com as guitarras. Gostei muito também de uma parte C, muito criativa.

"Anos Setenta", é a quarta canção e nessa faixa, o Riff Hard-Rock, bem ao estilo dos anos setenta dá início aos trabalhos, mas é nítido que há uma boa influência do Blues-Rock, igualmente. Fernando Tavares brilha intensamente ao fazer um solo muito técnico e ao mesmo tempo, ultra melódico, a mostrar seu talento criativo e sob um belo timbre, devo registrar. Tem também nas partes B e C, atrativos muito interessantes e Milton mostra toda a sua técnica, inclusive no uso da alavanca, bem ao estilo de guitarristas mais contemporâneos seus, casos de Joe Satriani e Steve Vai. E o Riff final, sob uma convenção rápida e muito precisa, mostra a banda muito afiada.

"O Blues do Rock", como o título sugere, recorre ao Blues como base, mas sob uma pegada quase a beirar o Country-Rock virtuose de uma banda como o Dixie Dregs, por exemplo. Fernando Tavares faz mais um solo espetacular de baixo e o baterista, Luis Pegoto, brilha, ao soltar frases muito pontuais, mesmo ao manter uma batida tradicional, na maior parte do tempo.

"Libertadora", mostra um Hard-Rock em essência, daqueles baseados no estilo "AOR", bem do final dos anos setenta/início dos oitenta, onde bandas como "Foreigner", "Boston" e "Journey" foram os seus maiores expoentes, sem dúvida. Contudo, há uma pitada de Rock Progressivo setentista, pois como Fernando Cardoso tocou órgão Hammond nessa faixa, um ligeiro interlúdio desse estilo é notável, ao trazer lá pelo meio da canção, uma evocação do som do "UK" e dos discos solo do tecladista, "Rick Wakeman", sem dúvida. Os solos de Milton impressionam não só pela técnica, mas pelos timbres, muito bonitos.

"Ganhar e Perder" é a única faixa cantada e é super Pop Rock dos anos oitenta e não é para menos ao contar com a voz potente do ex-vocalista do "Rádio Táxi", Willie de Oliveira. O refrão é bem "grudento", tem algumas convenções mais complexas que lembram o som do "Taffo", uma referência óbvia e da qual acho não carecer nenhuma explicação adicional.

"6 cordas e Muitas Alegrias", antes mesma de ser escutada, tem no encarte uma explicação muito bonita do Milton, sobre sentir-se gratificado em ser músico e conviver com tantos músicos incríveis com os quais já tocou e toca na atualidade. E sobre a canção em si, trata-se de uma mini suíte, onde Milton construiu diversas partes distintas para dar vazão aos seus convidados poder atuar. Portanto, contém o trecho Progressivo, para que Sergio Hinds fizesse o seu solo; Hard-Rock para a atuação de Robertinho de Recife, Jazz-Fusion com Mozart Mello, a brilhar e finalmente e André Christovam, com o seu slide, fecha com o solo em ambientação Blues-Rock. E ao final, um trecho onde todos, incluso, Milton, solam sob revezamento. Uma faixa poderosa, portanto, com tantas feras juntas.

"Trem Azul", levou-me á reflexão de que quando pensei já ter ouvido todas as possibilidades dessa linda canção de Lô Borges & Ronaldo Bastos, sob múltiplas interpretações, incluso as clássicas, do próprio, Lô e de Elis Regina, eis que o Medusa Trio surpreende-me e apresenta-a sob uma vestimenta Blues, belíssima. Adorei a introdução bastante criativa e a levada vigorosa da banda.

"O Blues do Medusa", tem uma condução melódica na guitarra, espetacular, a lembrar, pelo estilo e timbre, o som de Jeff Beck. Aqui a base harmônica é bem Jazzy e a sobreposição de guitarras, solos e base, é muito bonita. Essa faixa foi gravada muitos anos atrás, em 2009, com o baixista, Ronaldo Lobo, na formação.Gravado no estúdio Purosom, de São Paulo, em 2017, tendo como técnico de gravação; mixagem & masterização, Edson Paulino. As intervenções do órgão Hammond, foram gravadas no estúdio, Áudio Freaks, com o técnico, Renato Coppoli. Mozart Mello gravou sua guitarra em seu Home Studio, em São Paulo. Robertinho de Recife gravou no RR Studios - Polorio, no Rio de Janeiro.André Christovam gravou no Music Studio em Glascow, na Escócia.
Direção de estúdio: Milton Medusa e Edson Paulino
Pré-produção de Milton Medusa e Fernando Tavares.
Direção de arte: Michel Camporeze Teér
Fotos: Deca Pertrini
Formação do Medusa Trio nesse álbum
Milton Medusa: Guitarra
Fernando Tavares: Baixo
Luis Pagoto: Bateria
(Faixa 10 - Ronaldo Lobo - Baixo)Músicos convidados:
Fernando Cardoso: Teclados
Sergio Hinds: Guitarra
Robertinho de Recife: Guitarra
Mozart Mello: Guitarra
André Christovam: Guitarra
Willie de Oliveira: Voz
Daril Parisi: Backing VocalsAgradeço muito ao Milton, pela amizade e inclusive por ter sido um dos maiores incentivadores para que eu empreendesse esforços para escrever o meu livro autobiográfico sob o foco da minha carreira musical e por ter apresentado-me ao Fernando Tavares, que foi o meu editor na revista Bass Player, no período em que eu fui colaborador desse veículo. E pela inclusão do meu nome na lista de agradecimentos aos apoiadores do seu trabalho, fiquei muito honrado e feliz por isso.Para conhecer melhor o trabalho do Medusa Trio, acesse o seu site oficial:www.medusatrio.com.brO canal de You Tube da banda:https://www.youtube.com/channel/UCI61giXN95TJaJ88IsF6bggE a página da banda, no Facebook:https://www.youtube.com/channel/UCI61giXN95TJaJ88IsF6bgg
Eis aí um trabalho que eu recomendo, por apresentar música de alto quilate, feita por músicos virtuoses, mas que observam o bom senso acima de tudo, portanto, não é um trabalho feito para ser apreciado apenas por músicos, mas agrada a todos.
