A "democracia" é uma pantomima encenada para enganar os burros - Áureo Alessandri.

27/06/2022

Este ano teremos eleições. Ah! As eleições! Que alegria é esta festa democrática!
Democrática? Será mesmo?

Há trinta anos eu era um estudante de engenharia elétrica numa faculdade de padres católicos. Apesar de ser um curso de exatas bastante pragmático, nossos mantenedores religiosos faziam questão de incluir na grade curricular algumas disciplinas como Ensino religioso, Filosofia e Sociologia.

Eram disciplinas desprezadas pelos alunos em geral, inclusive por mim, mas todos eram obrigados a cursá-las gostando ou não. Basicamente se resumiam a alguns seminários e trabalhos em grupo já que essas disciplinas não eram nem de longe o foco do curso e só estavam lá pra encher linguiça.

Num desses seminários - e sequer vou me lembrar de qual disciplina era - recebi uma avaliação dúbia do professor: "Meu caro, você não é lá muito democrático".
Calei-me com sóbria preocupação e fui jogar bilhar no boteco depois da aula.

Era início dos anos noventa e Fernando Collor, o primeiro presidente eleito na "redemocratização", recém tinha assumido o país para confiscar a poupança dos trabalhadores humildes - inclusive a minha. Receber o título de antidemocrático nessa época era quase como ser declarado leproso nos tempos de Cristo.

Hoje, passados trinta anos, acredito ter recebido um elogio. Involuntário, mas ainda assim um elogio.
De todas as palavras que a humanidade já foi capaz de criar desde que inventou a comunicação talvez nenhuma delas tenha tido seu significado mais deturpado do que DEMOCRACIA.

Senão vejamos seu significado atual, talhado não na Grécia antiga, mas no pós-revolução francesa: Democracia é um regime político no qual os cidadãos participam na criação das leis e na condução do Estado exercendo o poder da governança através de representantes eleitos.

Não é preciso dar muitas voltas para perceber o quão distante nosso Estado está disso.
Tudo o que os cidadãos de hoje fazem é votar para legitimar representantes que não os representam e que vão exercer o poder da governança conforme seus interesses e os interesses de seus partidos, gostem seus eleitores ou não.

Ironicamente, o termo "democrático" já foi (e continua sendo) usado para designar países sob ditaduras comunistas.
Veja o exemplo da falecida Alemanha Oriental (República Democrática Alemã) e do não menos fétido Vietnã do Norte (a República Democrática do Vietnã do pré-guerra). Sem contar a maior deformidade da face da Terra: A China (República Democrática Popular da China), um país escravocrata e ditatorial como nenhum outro jamais foi.Todos se intitularam democráticos mesmo que governados por ditadores ou por próceres do partidão vermelho escolhidos em eleições de um candidato só - sempre um pau mandado de Pequim ou de Moscou a depender do caso e da época.

No Brasil, especificamente, a deturpação da democracia por parte do Estado é grotesca e também não se restringe só aos termos. É claro que são muitos os que são enganados e que acabam se orgulhando de estar em um Estado democrático - coisa em que não estamos.Como assim não estamos num Estado democrático?
Ora, basta um exemplo: na atual câmara dos deputados federais, apenas 27 dos 513 deputados foram eleitos com os próprios votos que tiveram. Significa que apenas 5% das pessoas que estão fazendo as leis brasileiras e votando decretos representam a vontade da maioria do povo.
Não! Você não leu errado. Só 5% das pessoas que fazem as leis do país foram as mais votadas pra isso.Mas e os demais? E os outros 486 deputados?
Quem os colocou lá? A resposta é: O nosso sistema democrático.
Mais especificamente o quociente eleitoral, uma manobra matemática entabulada pelos partidos políticos para esmagar a representatividade popular com crueldade bem calculada e com fins escusos.O quociente eleitoral é um número calculado dividindo-se o número de votos válidos pelo número de cadeiras em disputa na Câmara. Alguns estados elegem 8 deputados enquanto outros elegem 70.

Em seguida, é feito o cálculo do quociente partidário: Divide-se o número de votos que o partido ou a coligação obteve pelo quociente eleitoral. O resultado é o total de cadeiras que o partido ganha.
Daí basta que os partidos preencham as vagas a que tem direito com os candidatos que obtiveram mais votos individualmente.Entendeu? Não? Não se preocupe. Tudo isso foi feito pra que ninguém entenda, pra que você se desinteresse em entender e para que com isso os partidos preencham a câmara com pessoas que não tem representatividade popular para governar o país.É a "matemágica" que rege o universo disforme da nossa democracia forjada por espertalhões e enaltecida orgulhosamente por bobalhões que babam na gravata achando que são patriotas.

Sintomaticamente, um dos resultados disso é um país subdesenvolvido sendo ciclicamente conduzido por um bando ignaro, mal cheiroso e desonesto sem representatividade, mas com ternos caros e títulos de excelência cercados por um séquito de assessores incapazes que lhes orbita à base de cabides de emprego.

Essa malta, além de imobilizar o presidente da república vetando seus decretos na câmara, ainda consegue inviabilizar a governabilidade utilizando-se de ações judiciais na suprema corte - que também não é eleita pelo povo mas se apressa em atender aos interesses escusos de partidos que querem o país parado.No Brasil, o próprio Estado inventou a distorção da democracia quando deveria ter sido seu máximo praticante: Aqui os não-eleitos é que governam.
Não por acaso, são eles mesmos os primeiros a enaltecerem nossa falsa democracia como uma grande conquista.

Enquanto tudo isso acontece, eu olho pra trás e me sinto gloriosamente aliviado por já ter sido rotulado como antidemocrático já que no Brasil a democracia não passa de uma pantomima mal encenada feita sob medida para enganar os burros.

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